Eu sei, eu sei, tenho andado depré, mas não se preocupem,
não estou suicida. Vou à prova, mas no modo caminhada/apoio. Vai ser
espetacular voltar àquela serra que eu adoro… O problema vai ser o stress,
porque o meu marido vai aos 30km dos Abutres…
Vou aproveitar para abordar um tema que fica muitas vezes
esquecido em muitos blogs running que sigo, o apoio das
mulheres/namoradas/amigas coloridas, dão nas provas e os stresses e peripécias porque
passam (principalmente quando acompanhadas por filhotes)…
Ahh e nem venham com coisa do tipo “ET, e os
maridos/namorados/amigos coloridos??? Eles também apoiam e têm stresses…”
TRETAS!!!
Então, a minha entrada para este mundo louco do running
deveu se ao meu marido. Ele começou a treinar com um amigo e de um momento para
o outro deixei de estar com ele. Durante a semana treinava e aos fins de semana
ia a provas. Eu fazia as minhas caminhadas e acabei por me juntar ao grupo para
ter motivo de conversa com o marido, mas comecei pelas caminhadas, porque
correr é parvo, pensava eu. Acho que é algo que tooodddaaa a gente, que nunca
experimentou correr, pensa…
Depois de experimentar fiquei viciada.
A primeira vez que fui acompanhar o gajo a uma prova (felizmente
não me inscrevi) foi ao Louzan 1000, em 2016. Foi a primeira vez que estivemos
na serra na Lousã. Foi amor à primeira vista. É uma serra linda, verde, com cascatas
de agua por todo o lado, ficamos mesmo apaixonados…
Nesta prova tem que se subir 1025m em 8.5km. Parece fácil, não
é?? Nem de carro é fácil, quanto mais a correr ou a andar…
Os atletas partem do Hotel Palácio da Lousã (lindo, lindo,
lindo) e a chegada é no ponto mais alto da serra, em Trevim (deslumbrante a
paisagem).
Palácio da Lousã |
Bonito |
Quando chegámos à Lousã no dia anterior e começamos a subir
a serra de carro é que o gajo se apercebeu da dificuldade da prova… E eu fiquei
cheia de medo, porque tenho pavor a conduzir em estradas estreitas de dois sentidos
com falésias brutais… Principalmente quando a filhota vem no carro…
No dia da prova o gajo achou que não valia a pena levar os
bastões que o L (o líder do nosso grupo de running) sábiamente emprestou e aconselhou
a levar… Sim para quê levar bastões para uma prova onde se sobe 120,6m por
km??? Era excesso de peso, de certeza!!! Então os bastões ficaram no quarto do
hotel, a descansar…
Quando partiram confesso que fiquei com um pouco de inveja.
Assim que consegui peguei na miúda e metemos nos no carro para começar a subir
a serra até Trevim.
Ainda mal tínhamos começado a subir, quando nos mandaram
parar. Era a passagem dos atletas que nem 1 km deviam ter feito… O nosso carro
era o primeiro, por isso eles passavam à nossa frente. De repente aparece o
gajo à nossa frente. Ponho me a apitar que nem uma louca, e ele olha para nós
com um ar de quem já estava nas ultimas e grita, desesperado:
“OS BASTÕES, OS BASTÕES, ESTÃO NO CARRO????”
“NNOOOPPPP, FICARAM NO HOTEL!!!” – Gritei eu.
A cara de desapontamento do gajo… Xiiii. Lá esboçou a custo
um sorriso para a miúda não ficar triste, e desapareceu.
E nós lá começamos a subir, devagar, devagarinho… Quem vinha
atrás e com pressa, azares, querem ir depressa, arranjem uma autoestrada!!!!
Passado, sei lá quanto tempo, chegámos ao topo da serra,
Trevim, com as ventoinhas eólicas e uma vista brutal. Lá ao fundo até se via a
serra da Estrela que estava com o topo branquinho (a prova foi em Março)…
Paisagem brutal |
Lindo |
Coloquei me num ponto estratégico para o ver a chegar, e
esperei… E esperei… E esperei…
- Oh mãe, quando é que o pai vem???
- Deve estar mesmo a chegar. Senta te ai que eu já te chamo…
E esperamos, esperamos, esperamos…
-Maaaaeeeeeee, estou farta de esperar…
E passa o senhor com o cão, o senhor com evidente excesso de peso, a
senhora com evidente excesso de peso, e do gajo nada…
Cão atleta e o seu dono |
-Maaaaaaaaaaaaeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee??????
Bolas… Será que aconteceu algo ao gajo. A ansiedade e
preocupação…
- Maaaaaaaaaaaaeeeeeeeeeeee!!!! QUERO FAZER XIXI!!! – Grita a
mini ET!!!
Porra até os veados ficaram a saber que ela precisava de
fazer xixi… E agora o que é que eu podia fazer??? Não havia WC, nem sequer um
arbusto decente para o servicinho. E claro, ela é uma menina da cidade, que só
sabe fazer xixi em sanitas, sabe lá agachar se e fazer o serviço sem se sujar
toda…
Quando pego nela para procurar um local adequado, eis que
vejo o gajo lá em baixo. “Olha o papá!!”
-ESTOU AFLITINHA, NÃO AGUENTO!!!
Ahhhhhh ansiedade, preocupação, felicidade, irritação, frustração…
Tudo numa fracção de segundo… Aguentas pois, tens que passar na meta com o
papá!!! Nem sei como, mas aguentou e passou a meta com o pai sem grande stress,
porque nenhum deles conseguiu correr até à meta…
E depois pego nela e eis que consigo arranjar um espacinho e
é claro xixi por todo o lado…
O gajo foi quase o ultimo a chegar e trouxe um amigo com
ele, um pau que fez de bastão. As fotos dele na prova são um fartote, porque
parece o pastor com o seu cajado…
Orgulhosa do meu gajo!! |
ahah muito bom. Da minha parte não há qualquer despreza pela epopeia que é acompanhar uma prova, acredita! Até já pedi várias vezes à minha mulher para escrever um texto sobre isso. Para nós, o caso mais extremo foi nos Alpes. A minha prova durou 44 horas e ela estava com um miudo com 6 meses e uma de 3 anos! Mas acredita, para quem lá vai dentro, vale OURO! Boa sorte nos Abutres, para os 2! Infelizmente desta vez fiquei de fora.
ResponderEliminarA tua mulher deve ter histórias brutais!!! Pede lhe pf para as escrever!!
EliminarNos Abutres vou nas calmas, mas sempre preocupada com o gajo...
Força para os Abutres!
ResponderEliminarE que bela história ;)
Beijinhos
Obrigada!!
EliminarBeijinhos**
Ha ha ha ha! Lembro-me bem dessa prova e do cajado. Foi muito bom!
ResponderEliminarCurioso que ainda ontem falei contigo sobre este assunto antes de ler o teu post. Telepatia. :) ***
Ahh o famoso cajado...
ResponderEliminarÉ verdade. Sintonia.
**
Que história! Realmente o apoio que vem de fora é brutal para quem corre e as mulheres/maridos, namoradas/namorados ou amigas/amigos que se disponibilizam para este papel, muitas vezes com tantos percalços, demonstram inequivocamente o que é gostar de alguém :)
ResponderEliminarForça e boa sorte! :)
É verdade. Nas fogueiras senti o poder do apoio. É meio caminho andado para completar a prova.
Eliminar**
Acho que há histórias de ambos os lados :) Eu já apoiei, e já fui muito apoiada. E isso vale mesmo ouro!
ResponderEliminarBoa sorte para os Abutres :)
Há muitas histórias. Tenho que contar a minha história (com a mini ET) na maratona de Lisboa. Não fiz a prova, mas acho que fiquei mais cansada que o gajo...
Eliminar**
Muito bom :) ... é de enorme valor este tipo de apoio para quem vai "lá dentro", ganha-se asas e carrega as baterias. E é de louvar os esforços, especialmente as longas horas à espera, porque é tudo muito bonito, as paisagens e tal, mas durante algum tempo ... e isto quando as condições climatéricas estão favoráveis ... a mini ET e o xixi ... hehehehe ... se der na ET graúda um dia tb terá de se desenrascar ;)
ResponderEliminarBoa sorte para os Abutres ... olha o equipamento pró frio ;)
A ET desenrasca se... O pior é quando temos os miúdos aborrecidos e com necessidades fisiológicas urgentes...
EliminarJá estive horas à chuva, ao frio e tenho um monte de escaldões à conta disto... Falta me a neve :) que estará para breve, porque o gajo anda louco...
As borboletas dos Abutres já voam na minha barriga. Gosto tanto daquela serra, só tenho pena não ter ainda preparação (coragem) para o trail. Vamos ver se em 2019 ganho coragem...
**