terça-feira, 30 de maio de 2017

Nada de loucuras...

Depois da confiança ganha com o meu amigo Carlinhos (agora está mais Carlos) achei que estava na hora de me juntar a um grupo de corrida. Optei por um grupo que corre na cidade e esporadicamente vão para o monte explorar trilhos.
Não há atletas profissionais no grupo. São  pessoas normais que adoram correr e conviver. O líder é um homem muito ponderado com uns picos de loucura. Já corre há muitos anos, conhece os melhores trilhos e caminhos da zona...
Na primeira vez que fui senti que apesar das minhas evidentes dificuldades, ninguém parecia importar se em fazer piscinas, para voltar para trás, para saber como é que eu estava.
Não faltaram as dicas, de como respirar ou fazer uma subida (smalls steps)... É claro que no primeiro dia acompanhei o pessoal apenas um bocadinho, mas fiquei feliz.
Mas o meu objetivo era correr 1 km sem parar. Não estava fácil.
Quando fui ao IPO para a consulta de endocrinologia comentei com a médica, que tinha muita dificuldade em correr, controlar a respiração...
Ela vira se para mim e diz algo do género:
"Minha querida ET, nunca vais conseguir correr muito, os teus pulmões foram também bastante afectados pela radioterapia..."
Eu ouvi aquilo e pensei, #@#€@€ (asneira daquelas gordas) outra vez a mesma desculpa... $%$#&$, não vou desistir...
No dia seguinte fui treinar de manhã para um parque muito conhecido em Lisboa. Na altura usava a aplicação ​da Nike, que tem a possibilidade de avisar cada vez que completamos um km. Estava uma manhã de janeiro, solarenga, perfeita...



Lembro me bem (o que é uma raridade, já que​ também a minha memória funciona muito mal, por causa da TBI) o momento em que ouvi nos fones 1km... Fiquei tão feliz... O meu primeiro kilometro sem parar...  Mas havia de ser o início, ia conseguir correr...
Mais tarde, já com a minha pediatra (lol, quase quarentona mas ainda tenho pediatra) voltei a falar sobre a minha dificuldade em correr. Resposta:
"ET, correres 10km equivale a 1 maratona para o teu coração. Ele já passou por tanto. Vai com calma e nada de esforços extremos"

Ok, ok, nada de loucuras...

segunda-feira, 29 de maio de 2017

ETs a pseudocorrer

Depois de me cortarem o pescoço para tirar a tiróide achei que devia manter o modo de vida saudável. Não tenho vontade de voltar a ficar internada naquele sitio...

Comecei com umas caminhadas. A minha zona tem um passeio bem jeitoso à beira do rio, com patinhos (infelizmente vejo alguns literalmente a boiar). Adorava ir bem cedo para ver as teias das aranhas, executadas na perfeição e cheias de gotinhas de água.

Trabalho das Senhoras Engenheiras Aranhas

Caminhava devagar, mais depressa, mas correr, nopp... Não conseguia mesmo.
Caminhava uns 2 km, e corria 200m e quase que morria. Durante meses andei assim. Corria 200m, "morria", caminhava 200...

Num belo dia encontrei um amigo, enquanto "treinava". Ele é também um ET, com uma história engraçada.
Cresci com ele, e no nosso "bairro" era conhecido como o Carlão... Um dia o meu marido que tinha começado a treinar, desafiou o Carlão para ir correr com ele. E ambos ficaram com o bichinho... Quando encontrei o Carlão no passeio Ribeirinho, ele era agora conhecido como o Carlinhos...
Eu expliquei lhe que só aguentava correr 200m seguidos, mas ele não quis saber, puxou por mim e consegui bater o meu recorde de 200m a correr, para vá uns 400m...
Tenho que lhe agradecer, pois nesse dia percebi que até os ETs poderiam correr.

Bolas, meti na cabeça que ía conseguir...

quarta-feira, 24 de maio de 2017

25 anos depois

Os 25 anos de ET, foram um marco que que fiz questão em festejar. Não sabia era que ia ser um ano, vá chatinho...

2015 começou com uns exames fofinhos à minha Tiróide. Parece que é um dos órgãos mais afectados, pela quimioterapia e TBI (total body irradiation) agressivas que fiz. Tinha um alto no pescoço há uma data de anos mas felizmente tinha estado sempre controlado. É claro que no aniversário de ET o dito cujo tinha que crescer... e a biopsia vinha inconclusiva...


A minha médica não quis arriscar. Vamos tirar isso antes que descambe... 



 A consulta com o "cirurgião" foi, estranha, digna de uma ET como eu. Imaginem o que é entrar numa sala cheia de médicos vestidos à "anatomia de Grey". Foi pena não estar o "McDreamy" ou o "McSteamy"... Saí de lá apavorada... Tanta gente para decidir se podi ser operada ou não...



Esperei então que me chamassem para me cortar pescoço.

Estava eu a descansar no sofá, quando toca o telemóvel:

"Estou a falar com a ET??"

"Pode vir amanhã a partir das 8.30, para ser operada???"

Eram umas 4 da tarde e no dia seguinte o meu marido ía para o Porto de avião, para ver um jogo da liga do campeões no estádio do dragão (sim, sim, o marido é tripeiro, mas ninguém é perfeito)...


"Claro que sim, se quiser posso ir já..." Disse eu... Ahhh, felizmente a senhora não ligou à parvoíce que eu disse...


Com o stress todo de preparar tudo, deixar a miúda na avó, jantar bem (petiscos, no Maria Azeitona, na Amadora) comprar um livro sobre o Estado Islamico (para ler no hospital) acabei por nem ter tempo para pesquisar sobre a operação, o pós operatório ou como é fácil engordar sem Tiróide...






A ultima ceia, no Maria Azeitona

Sempre fui apologista da máxima, "saber é poder", mas neste caso foi bom ter ido para a sala de operações sem saber o que me ía acontecer...

A recuperação foi uma seca. Levantava me e via tudo a andar à roda. Lembro me bem do primeiro dia em que fui à rua. Foi assustador, bancos de jardim a andar, árvores a perseguir me, tudo digno de um filme de terror. E os adesivos no pescoço a atrofiar os movimentos?? Fofo, muito fofo...

Antes de ser operada caminhava todos os dias e andava a "comer bem". Isto favoreceu a minha recuperação. E quando me senti a 100% quis logo retomar as minhas caminhadas e meti na cabeça que ía começar a correr...


Back to the game


As corridas são para outras núpcias...