terça-feira, 20 de junho de 2017

Louzan Trail 2017

O fim de semana prometia calor, trilhos lindos, riachos refrescantes, xisto, subidas, descidas, paisagens deslumbrantes... Mas...

No sábado fomos carregados de água para a linda Lousã, sob um calor abrasador... Chegámos por volta da 14:30. Tínhamos marcado um passeio organizado pela Câmara Municipal a uma aldeia típica de Xisto... Confesso que não estava com vontade nenhuma de me meter num autocarro à hora do calor, rezei (atenção que não sou crente) para que tivesse ar condicionado. Felizmente tinha ar condicionado. Encontramos um casal conhecido e fomos para a maravilhosa serra da Lousã de visita à aldeia de Candal.

Candal - Já se percebe a trovoada





Piscina de Candal, fresquinha


Maravilha... As casas rodeadas de verde, o som dos passarinhos, misturado com o som da água dos riachos... Nem o sol a queimar a minha pele (alerta de escaldão) estragou o momento.

No caminho senti o nervosismo do pessoal que ia à prova, eu ia na boa, ia à caminhada... Vimos as famosas fitas laranja em subidas/descidas (vá paredes) com declive fofinhos, locais onde não dava para perceber como é que chegavam lá. Ia ser uma prova puxada... Eu só dizia:

"Tchiii, ainda bem que vou só à caminhada"

Sei que uma boa parte das pessoas que iam naquele autocarro, ficaram com inveja de mim...
O meu marido estava inscrito nos 25km e senti que estava um pouco receoso, mas ele já sabe por experiência, que na serra da Lousã não se brinca...

Chegados à cidade, levantamos os dorsais. Devo dizer que as Tshirts são muito giras. Entretanto começamos a ver o céu muito escuro, de trovoada.

Fomos comprar mais agua e começamos novamente a subir a serra, mas desta vez, no lado oposto, para a linda aldeia do Talasnal. Sempre a ver as fitas laranja...


Chegados ao Talasnal, fomos levados à casa onde passaríamos o fim de semana. Pequenina, com aquele aspecto rústico no exterior, mas com todas as comodidades modernas, com uma vista maravilhosa para a serra e para o alto de Trevim que é o ponto mais alto da serra e onde iriam passar os runners dos 50km.


Antes do jantar ainda deu para explorar um pouco a aldeia. Fomos até a um riacho lindo...

Talasnal

Riacho
Quando estávamos de volta vimos um helicóptero de combate a incêndios, no alto da serra, “por trás” de Trevim, isto por volta das 19.30. 
Às 20 horas já cheirava a “incendio”.

O jantar foi no típico restaurante da Ti Lena. Foi um jantar delicioso, mas alienígena, pois a luz estava constantemente a faltar, por cerca de 2 minutos, algo que a senhora do restaurante estranhou. Também as comunicações estavam etezadas, pois quando liguei para a famelga ficava sem ouvir nada no telemóvel, apesar de ter rede e do outro lado o pessoal estar num local também com rede (não, não, não estava a ligar para Marte)…

Agora ao escrever este relato, até fico agoniada, por me estar a divertir enquanto decorria aquela tragédia a uns 30km de onde estava…

Quando terminamos o jantar, estava um pôr do sol maravilhoso...

Ficamos um pouco no alpendre da casa sentados em cadeiras de baloiço a desfrutar do silêncio da serra…
Antes de deitar ainda procurei nas redes sociais onde era o incendio, mas não encontrei nada, e na TV davam conta de um incendio no distrito de Leiria (está a kms da Lousã, que é no distrito de Coimbra, pensei eu) que não me preocupou…

Dormimos mal porque estava muito calor e da rua só havia cheiro a incendio, nem uma aragem…

Acordamos muito cedo, porque a prova dos 25 km começava às 7 da manhã. O meu marido levantou se, pegou no telemóvel e abriu a janela.  
"- Ohhh cancelaram a prova..."

Lá fora chovia cinzas e o cheiro era muito intenso. Havia gente que estava hospedada na aldeia, que literalmente fugiu.

Fomos à cidade, para comer e tentar perceber o que estava a acontecer.
Ouvimos que os voluntários do abastecimento de Trevim, estavam assustados e queriam sair dali.
Eu sei que lá em cima, a 1200m de altitude a vista é deslumbrante, mas no domingo devia de ser assustadora.

Havia também quem dissesse que no sábado à noite a maior preocupação da organização era a desorientação dos veados que estavam a fugir para a zona onde iria decorrer a prova...

Lousã estava envolta em fumo...

Voltamos para o Talasnal, mas fomos parando em determinados locais para explorar alguns dos trilhos que a organização tinha preparado.


Não era nevoeiro
Ia ser uma prova linda, difícil, desafiante, mas largarem 1500 pessoas na serra, naquelas condições, era mesmo muito perigoso.


Só espero estar bem para voltar à Lousã no próximo ano, e que se mantenha assim linda e verde...

Aproveito para deixar os meus sinceros sentimentos ao familiares e amigos de todos os que faleceram.

E muita força, para quem perdeu tudo!!






4 comentários:

  1. Conheço mais gente que estava inscrita e que passou pelo mesmo... Provas há muitas, e para aquela gente, não imagino o desespero que terá sido.

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  2. Essa zona é lindíssima .. em prova já fiz os Abutres, em passeio estive aí um fim de semana no ano passado, numa dessas casinhas de xisto, em Casal Novo, sem tv, sem net e andei a explorar os trilhos de umas aldeias para as outras (entre as quais o Talasnal, claro). Foi qualquer coisa de expectacular.
    Quanto à anulação da prova só podia ter sido decidido assim. Em relação à tragédia estou sem palavras :(
    Até sabádo em Peniche ;)

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  3. Sem palavras... E o desespero ainda não acabou. :(

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    Respostas
    1. Fiquei com aquele feeling do "11 de setembro"... A partir de agora nada vai ser igual...
      Podia ter acontecido a qualquer um, a nós também, bastava sairmos mais tarde e ter acompanhado o rota do GPS...

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